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Lázaro está morto?

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Somos desumanos na medida em que tratamos o outro como objeto. Retirar a humanidade de alguém é renegar a essa pessoa a possibilidade de existir por ela, suas vontades e necessidades. Que são inerentes à condição humana.

Os desumanos atentam contra a vida. Sonegam direitos. Pessoas assim não compadecem com a dor do outro; ao contrário, há até aqueles que se divertem. Um rito macabro em fazer o outro sofrer de alguma forma.

O assassino Lázaro, abatido em Goiás, é apenas um dos extremos de onde pode chegar a nossa desumanidade. A cara amarrada, o olhar duro e frio que acostumamos ver dele nos noticiários, intimida. A maioria pode até julgar que a imagem que nos foi apresentada é o típico perfil de um assassino.

Mas o mal tem rosto? Penso que não. O mal tem jeito de agir. Às vezes explícito como foi o Lázaro. Noutras, age à surdina. Sem alarde e há também o mal travestido de bem.

Um punhado bom de gente comemorou a morte do “mal”, mas o mal maior ainda está de pé e assombra. Faz vítimas. A esse a caçada é mais moderada e a gente até se acostuma com a presença do algoz.

Desumanos enxergam gente como “animais”. Vêem números ao invés de corações e acreditam que para a conta fechar haverá sempre os descartáveis. Gente que não é nada. E por não fazer falta, pode-se abrir mão delas.

Os desumanos criam seus códigos para justificar seus atos e, assim, dormir de consciência tranquila. Foi assim com o Holocausto. Em que um povo se julgava superior a outros e isso por si só justificava a aniquilação de milhões.

Hoje, talvez a proporção não se repita, mas a regra sim. Desumanos são egoístas e intolerantes e dentro do seu universo, vão sempre subjugar o outro. Afinal, é da sua natureza agir assim.

Ser diferente num mundo cada vez mais desumano é um risco. A intolerância, o preconceito, o racismo, o patriarcado e a ignorância permeiam nossos arredores e oprimem. Literalmente tiram o ar, asfixiam.

Desumanos não vivem sós no subsolo. Eles estão à espreita. Se incorporam à paisagem cotidiana. Usam túnicas, gravatas, uniformes. Pastoreiam e lideram pessoas. Eles se adaptam e no menor cochilo, agem.

Num momento tão desafiador como o atual atentados contra a humanidade acontecem e são relativizados. Além de contribuir para que mais vidas sejam ceifadas, desumanos sangram o país com a tal corrupção. Não se compadecem com a dor do outro, só com o que falta no próprio bolso.

Lázaro está morto, a desumanidade não. Ela anda por aí, viceja em cada bala perdida, na barriga que a fome, no gay espancado, na criança estuprada, no negro que esmola, no pai que não consegue emprego e no político corrupto que ri do nosso desespero.

Viceja na estupidez de quem crê no circo das ilusões, em prisões sem paredes feitas para entreter. Enquanto o mal continua solto. Ora blasfemando, ora subjugando.

 

  • RODRIGO DIAS é jornalista e web poeta, há mais de duas décadas trabalha no mercado de comunicação. Formado em Publicidade e Propaganda, também atua como assessor de comunicação.
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